Com o título “Canários na praça”, eis artigo de Francisco Artur Pinheiro, professor do curso de História da Uece. Ele aborda um daqueles momentos mágicos de termos a chance de se deparar com a natureza viva, com canários nativos em praças de uma Fortaleza dominada, rapidamente, pelo concreto e asfalto. Confira:
Num um domingo destes pela manhã, ia passando de carro na rua paralela de determinada praça, em determinado bairro de Fortaleza, quando percebi que os pés de chanana da mesma estavam lindamente floridos. A chanana flora o ano inteiro sempre pela manhã de 6h às 11h, aproximadamente. As flores de chanana eram as únicas naquela praça e estavam de tal modo lindas, talvez por causa de uma falha da Prefeitura, que não limpou o referido logradouro. Pois a prefeitura de Fortaleza, ao longo dos anos, não planta nada nas praças da periferia e ainda manda arrancar os pés de chanana que são flores naturais, não precisam ser irrigadas, não precisam ser plantadas e a natureza nos oferece em abundância.
Mas elas têm uma grande inimiga que é a prefeitura da cidade que prefere as praças sem flores. Sugiro aos iluminados dirigentes municipais que quando mandarem limpar as praças separem o “joio do trigo”, há matos e há flores do mato. O mato e o lixo jogados por pessoas mal educadas devem ser retirados, mas as flores não. E a chanana é uma flor e não causa feiúra às praças e aos canteiros centrais, pelo contrário, só causam boniteza. Terminada a apologia à chanana volto para o relato inicial. Então ia eu bater a foto da chanana, quando percebi que ao redor dela havia uma rolinha e um casal de canários nativos.
Fiquei parado, pelejando para acionar o celular, coisa que não domino bem, para registrar aquele espetáculo da natureza. Temia que com medo de mim, o casal de pássaros voasse. Eles foram se afastando mas não voaram. Até que enfim consegui registrar, mas sem muita qualidade. Já devia ter aprendido a andar com câmara fotográfica. Ah! Perdão, deixei de andar com câmara, porque a última vez que andei, deixei-a dentro do porta-luvas do carro enquanto assistia a reunião de pais do colégio e quando voltei a tinham roubado.
Mas mesmo correndo risco, tenho que voltar a andar com este equipamento e treinar mais o uso do celular. Apesar da perseguição dos traficantes de pássaros e da insensibilidade dos criadores em cativeiro, notadamente os que criam em gaiolas, pois são estes os responsáveis pelo desaparecimento dos canários nativos e de tantas espécies de nossa fauna. Mas a natureza é sábia e mais uma vez faz milagres, como qualifico o fato de existir canário nativo em Fortaleza. O certo é que testemunhar a existência de canários nativos, vivendo soltos, em Fortaleza, foi motivo de uma grande felicidade. Tanto é assim que resolvi escrever este pequeno artigo.
* Francisco Artur Pinheiro Alves
artur.uece@yahoo.com.br
Professor do curso de História da Uece.