Com o título “Mensalão e Pedrinhas”, eis artigo do jornalista Alan Santiago, que está no O POVO desta sexta-feira. Ele reverbera uma indagação das mais interessantes para este momento de “condenados” e condenados: “Não dizem que quem quer conhecer conhecer uma sociedade olhe para suas prisões?” Confira:
s aventuras presidiárias dos condenados no processo do mensalão e as sumárias mortes (decapitações horrendas) de presos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (MA), me parecem ter uma ligação de uma evidência arrasadora.
Nunca se prestou tanta atenção a um conjunto de presos quanto agora com a trupe de José Dirceu. Sabemos quanto tempo deixam o ex-chefe da Casa Civil ler na cadeia, por exemplo. Também as doenças cardíacas do deputado José Genoino e sua luta para curtir a punição assistindo Sessão da Tarde em casa.
É absolutamente natural que políticos de um dos maiores partidos brasileiros, oriundos de altos cargos da República e com sua sigla ainda comandando o Executivo nacional atraiam todas as atenções.
Isso é, na verdade, positivo. E por um motivo. Agora a opinião pública começou a passear pelos bolorentos corredores de uma prisão no Brasil com figuras que não são aquelas mortas todos os anos dentro de nossos estabelecimentos prisionais. Dirceu e Genoino têm nome e sobrenome. Os decapitados de São Luís, não.
Sem entrar no mérito das exigências feitas pelos políticos, fica soando como absurdo que a Justiça conceda a eles facilidades asseguradas pela lei, quando o crime é que uma massa anônima não tenha como garantir para si direitos igualmente legais. O Estado parece incapaz de conseguir isso. Essa é uma questão urgente.
Enquanto tudo for barbárie e selvageria, enquanto as pessoas aqui fora exigirem somente sangue dos que estão lá dentro, enquanto quisermos que nossos presos sofram no corpo as maldades que fizeram contra os outros por cá e não tenham direitos, dignidade, nem humanidade, veremos ainda muitos outros vídeos de decapitação.
Presídios precisam ser encarados como pertencentes ao movimento do País, partes integrantes dele e não como entidade paralela sobre a qual não interessa muito (“Eles já estão presos lá mesmo”).
Não dizem que quem quer conhecer uma sociedade olhe para suas prisões? Pois o retrato possível para o Brasil através de nossas cadeias é o pior. Uma sociedade violenta e injusta. Uma nação que ainda não percebeu que não vai conseguir paz se armando para a guerra e excluindo direitos.
* Alan Santiago
alan@opovo.com.br
Repórter do Núcleo de Cultura e Entrete nimento do O POVO.