Em artigo no O POVO deste sábado (13), o editor-adjunto do Núcleo de Conjuntura do O POVO, Luiz Henrique Campos, avalia o registro do Boletim de Ocorrência (BO) pela internet. Confira:
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) anunciou nesta semana a ampliação dos serviços de registro de Boletim de Ocorrência (BO) Eletrônico no Ceará. Agora, será possível realizar boletins pela internet referentes a 11 tipos de delitos. Antes, só havia três possibilidades. A iniciativa é louvável e torço para que funcione. Mas, sinceramente, sou cético quanto a isso. Ressalto, de antemão, que esse ceticismo pode estar contaminado pela dificuldade que tive esta semana de registrar um BO, após ter um carro arrombado.
Mas, convenhamos, passar mais de quatro horas, à noite, em uma delegacia, para obter um texto de pouco mais de 10 linhas confirmando o ocorrido, é teste de paciência marcante. Teste que não se limita a questão do tempo.
Na delegacia, que naquele dia recebia demandas de outras plantonistas em virtude do sistema das demais estarem fora do ar, é surreal dividir o mesmo ambiente com presos, sentados ou deitados no chão, que chegam a todo momento. Presos, que acabam tendo a preferência do escrivão para registrar as ocorrências. O mesmo escrivão, é bom destacar, que também é o responsável pela feitura dos BOs.
Como jornalista, conheço grande parte das delegacias de Fortaleza e da Região Metropolitana. Sei, portanto, das dificuldades enfrentadas pelos policiais para prestar atendimento condizente com os impostos que todos pagamos. Confesso, porém, que vivenciar a experiência como usuário me fez considerar que nós, jornalistas, não estejamos conseguindo transmitir nem a metade do que se passa no dia a dia de uma delegacia, tanto pelos profissionais que ali trabalham bem como em relação a quem precisa do serviço.
O mais grave de todo esse quadro, todavia, talvez seja a condição em que se encontra o profissional que está prestando o serviço naquele local. Durante o tempo que passei aguardando o atendimento, o retrato da baixa autoestima era gritante. Praticamente todos admitem a perda da “guerra” contra a violência no Estado. Repito, espero que a ampliação dos BOs eletrônicos melhore o atendimento, mas a situação vivenciada hoje pelo sistema é capaz de resistir até a tecnologia.