
Surpresa, nesta quarta-feira, no Sindicato dos Médicos do Ceará. Só fato de surgir a especulação nos meios políticos de que o presidente da entidade, José Maria Pontes, pode sair indicado com aval do PCdoB para a pasta da Saúde no futuro Governo Roberto Cláudio, já provocou a renúncia de um dos diretores. Recebemos essa carta renúncia de Pedro Henrique Felismino. Confira:
CARTA RENÚNCIA
Prezados(das) colegas médicos e médicas:
Perdi da memória a data de quando me filiei a este Sindicato, mas tenho presente a década desde quando nele passei a atuar ativamente, já se vão 20 anos. Sempre envolvido com o trabalho das diretorias que se sucederam nestes anos, aqui exercitei e reaprendi cotidianamente a fazer política sindical; aproximei-me de colegas que, apesar da árdua atividade de médico, encontraram tempo para se dedicarem à organização e à luta sindical da categoria. Aqui e agora, abro um parêntese para prestar uma homenagem a Chico Passeata, com quem tanto aprendemos sobre movimento sindical. Aqui, tive o privilégio de conviver com a grande colega Terezinha Braga Monte, firme nas ideias, mansa na postura, íntegra, zelosa do papel político-social do sindicato; tive o prazer intelectual de desfrutar das ideias sobre quem somos, o que precisamos fazer sem transigir jamais, e, de novo, mais um parêntese para dizer quanto empobreceram nossas reuniões desde o afastamento do companheiro Urico Gadelha. Também lembro com saudade do nosso querido Dr. Nilson de Moura Fé, mais velho do que nós, mas com um vigor juvenil invejável para trabalhar pela categoria, ensinando-nos, fazendo de conta que conosco aprendia. Se menciono estes companheiros, é porque com eles viemos, nesses vinte anos, construindo a melhor imagem de nosso Sindicato perante os colegas e a sociedade cearense. Mas, claro, por aqui passaram outros que deram sua contribuição e chegaram jovens colegas, como Mariana Moura Fé, empenhados em aprimorar o movimento sindical.
Não obstante o prazer da convivência e do aprendizado desfrutado com os colegas, hoje, com muito pesar, comunico à diretoria minha renúncia do cargo de Secretario Geral Adjunto do Sindicato dos Médicos, por discordar radicalmente do uso do Sindicato feito pelo nosso presidente José Maria Pontes, em prol da candidatura do PSB. Uma pena, Zé. Você, um militante sindical que sempre pautou sua vida pública, norteando-se por valores éticos, se apequenou. Foi angustiantemente frustrante vê-lo, todo aquele tempo, no programa eleitoral do PSB, após termos recebido, naquele mesmo dia, os dois candidatos na sede deste Sindicato e obtido de ambos compromisso formal com nossos pleitos.
É inadmissível que o presidente do Sindicato tenha usado o espaço físico e simbólico do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará para produção de programa televisivo a ser utilizado por seu candidato, sem ter comunicado, discutido, pedido autorização. Aliás, o esperado é que ele, numa atitude ética, tivesse se licenciado do cargo de presidente do Sindicato para trabalhar às claras pelo seu candidato.
No fato de o Dr. José Maria Pontes assumir publicamente seu apoio e militância pró Roberto Cláudio não há nada de inidôneo. Ele é livre para escolher os seus pares e adulto para saber que “voto não tem preço, mas consequência”. Agora, aderir sob a investidura de seu cargo de presidente da entidade é postura indefensável! Dr. José Maria Pontes, no exercício de seu cargo de presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, utilizou-se, sim, da visibilidade e credibilidade do cargo a ele confiado, para uso, por exclusividade, pela defesa desta categoria. Justificar que se apresentou como médico da rede municipal de saúde é subestimar a inteligência das pessoas. A figura do Dr. José Maria Pontes não se dissocia da representatividade da categoria médica enquanto exercer o cargo de presidente.
É inaceitável que tão comprometido com a publicização e a denúncia dos problemas do sistema de saúde municipal procure minimizar os problemas da saúde no Estado, baixando o tom da crítica, chegando até mesmo a atribuir a precária situação dos hospitais geridos pelo governo estadual à prefeitura de Fortaleza. Não é de hoje que se ouve nos corredores deste Sindicato que existem dois pesos e duas medidas quando do enfrentamento dos problemas de saúde na rede estadual e municipal.
Por tudo isto, venho hoje, repito, apresentar meu desligamento da atual diretoria do Sindicato porque não me sinto mais, dentro do contexto atual, em condições de dar nenhuma contribuição, por entender que o Sindicato precisa enfrentar, de modo igualitário e com soberania, os gestores do município e do estado, que estão a dever à categoria melhores salários e condições de trabalho, e à população, serviços de saúde de qualidade.
Fortaleza, 30 de outubro de 2012
* Pedro Henrique de Menezes Felismino.