“A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) descartou, por enquanto, colocar em prática o sistema de rodízio para abastecimento de água nos bairros de Fortaleza. No último dia 10 de outubro, após o fornecimento ter sido interrompido no Antônio Bezerra, afetando o Frotinha, a companhia informou ao O POVO que começaria a testar um sistema que alternaria o abastecimento na área. Por nota, a empresa havia dito que “(o sistema) funciona dividindo a região em duas áreas, que terão a distribuição de água direcionada um dia para um setor e, no dia seguinte, para o outro, ou seja, serão abastecidos a cada 24 horas”.
Pelo modelo de revezamento, locais que não enfrentam falta d’água poderiam ter o abastecimento limitado para atender a demanda que a Cagece, agora, não consegue suprir. Denunciado pelo O POVO em junho, o problema da falta d’água, atinge, pelo menos, 19 bairros e é provocado por limitações no sistema de distribuição, explica a Cagece. “O transporte de água foi prejudicado porque algumas áreas tiveram crescimento muito grande. Não é falta de água”, justifica o diretor de operações da empresa, André Facó.
Facó ressalta que o sistema de rodízio pode chegar a ser utilizado, mas como “última alternativa”. Por ora, “ajustes operacionais” estão sendo feitos para remediar a situação. Segundo o diretor da empresa, um sistema de monitoramento em tempo real tem ajudado a direcionar água para onde a demanda é maior. A água que abastece a Capital vem da Estação de Tratamento de Água (ETA) do açude Gavião. Facó conta que está sendo intensificado o combate às fraudes (“gatos”) e aos vazamentos.
O problema só será resolvido definitivamente, diz a Cagece, quando a Estação Oeste for finalizada e as adutoras, ampliadas. Essa estação, que fica no limite entre Caucaia e Maracanaú, atenderá as zonas norte e oeste da cidade. Para suprir a demanda de Messejana e bairros próximos, uma nova tubulação será feita a partir do Gavião. De acordo com Facó, as novas adutoras vão dar segurança de “água todo dia” pelos próximos dez anos. O problema é que as obras só devem terminar em 2013 – a de Messejana, no início do ano, e a da Estação Oeste, no fim de 2013.
Enquanto isso, a população recorre a alternativas diversas. No Álvaro Weyne, por exemplo, a rotina das famílias mudou. A água já não chega às torneiras e aos chuveiros a todo instante. Para fazer simples atividades do dia a dia, como tomar banho ou lavar louças, os moradores precisam utilizar baldes. A costureira Ana Luzia Oliveira, 40 anos, por vezes levanta às 5 horas para lavar as roupas. “Às vezes, 6 horas já não tem mais água”, reclama. O que ajuda a família, segundo o eletricista Jonas Barbosa, 45, marido de Ana, é uma bomba que fica na casa de uma vizinha. Em tempos de falta d’água, Maria Teixeira, 83, socorre a todos com a água do poço profundo. “Tem dias que enche de gente. Não podia fazer a maldade de negar água.”
Somente neste ano, a Cagece já recebeu 331 multas por problemas no sistema de abastecimento e esgotamento sanitário. As infrações totalizam R$ 2.769.110,15. Os dados são da Autarquia de Regulação, Fiscalização e Controle dos Serviços Públicos de Saneamento Ambiental (ACFor), que fiscaliza os serviços prestados pela companhia. Em nota, a Cagece disse apenas que foi apresentada defesa para todas as autuações emitidas. E acrescentou que aguarda o pronunciamento da ACFor.”
(O POVO)