Em artigo no O POVO deste sábado (7), o editor adjunto do Núcleo de Conjuntura do O POVO, Luiz Henrique Campos, comenta o encerramento das atividades da empresa de ônibus São José de Ribamar. Confira:
Li com tristeza no O POVO a notícia dando conta de que a empresa de ônibus São José de Ribamar encerrou as atividades na prestação de serviços de transporte público na Capital. Morador do bairro de Fátima na adolescência, fui usuário dos carros do seu João Alberto por muitos anos, sem que me lembre, tenha queixa a registrar. Após 45 anos, finda o trabalho de um homem ousado e pioneiro que não se curvou aos poderosos do segmento na cidade, comandado até hoje por pequenos grupos.
Lembro do zelo com que os carros da São José de Ribamar circulavam pela cidade. Eram tempos que se conhecia o motorista e o trocador pelo nome. Eram tempos de carros limpos, no horário, e de funcionários que tinham a exata noção da função que exerciam. Coube também a seu Alberto encetar movimentos, como o de 1983, proibindo fumar dentro dos coletivos. A iniciativa resultou em lei municipal.
Em 2000, a linha Campus do Pici/Unifor recebeu os dois primeiros ônibus equipados com ar condicionado, poltronas de veludo, piso emborrachado, vidros fumê e motor traseiro. E o melhor, sem nenhuma taxa de acréscimo sobre a tarifa em vigor. Passados 12 anos, quantas outras empresas adotaram esse serviço?
Poderia contar vários fatos, como o do dia em que estudantes da antiga Escola Técnica entraram no ônibus e queriam pular a catraca por não ter dinheiro para pagar. O trocador, então, disse que só autorizaria se o dono deixasse. O motorista, então, desviou a rota, foi até a casa de seu Alberto, que liberou a passagem. São casos assim que marcam a imagem da São José de Ribamar e de seu Alberto, que, apesar de não o conhecer pessoalmente, sei de muitas de suas histórias através de terceiros.
Mas homens e trajetórias como as dele não ficam impunes aos poderosos. Por não se curvar a estes, denunciou de forma solitária acordos com os quais não compactuava. Uma, duas, três, não sei quantas vezes foi à imprensa gritar. Poucos ouviram, ouse ouviram, fizeram que não.
Parabéns, seu Alberto.