Eis artigo do publicitário e escritor Ricardo Alcântara. O título é “Só o Lula salva? e o assunto diz respeito ao processo sucessório de Fortaleza, com ênfase para o preferido de Luizianne Lins, no caso o seu secretário da Educação, Elmano Freitas, com 29% de rejeição, segundo pesquisa do Ibope. Confira:
Tão logo colocou seu candidato, Elmano Freitas, na cabeceira da pista, a prefeita Luizianne Lins foi, por iniciativa dos próprios aliados, alvejada pela publicação de uma pesquisa eleitoral que lhe trouxe as piores notícias. Diante do fato, a prefeita vendeu a versão que lhe restou, desqualificando a consulta como “encomenda de partido”. Está certa em dizer que a pesquisa está errada, mas sabe que a pesquisa está certa e o que ela diz, errado.
Com aliados assim, quem precisa de adversários? Certo é que, quando um terço dos eleitores diz que não aprova a sua gestão, isto se chama oposição. Quando dois terços dizem o mesmo, é melhor mudar de direção. As más notícias não se resumem a seu partido não ter candidatos fortes (Artur Bruno, o melhor, tem 5%) e sua gestão ser mal avaliada (80% deseja mudança, 66% desaprova, 36% considera “péssima”).
A soma dos candidatos já definidos que acenam com mudanças resulta em 89% das intenções e partem de um patamar elevado de reconhecimento: deles, apenas Roseno é desconhecido para mais de 20% dos eleitores.
A seu favor, poderia contabilizar a rejeição alta dos adversários (Inácio, 34%, Moroni, 38%, Cals, 39%), mas Elmano Freitas já bate nos 29%. Somente por desconhecimento? Não: Bruno, bem conhecido, ostenta o mesmo índice.
A influência negativa de seu apoio (56%) consegue superar um campeão olímpico: (40% para Tasso Jereissati) e seu potencial agregador (18%) não chega a dois terços de um quase inativo Lúcio Alcântara (33%).
Achou pouco? Pois nem mesmo uma aliança com o governador anima: 68% deseja vê-los separados. Quer dizer, haveria, no provável acordo, maior potencial para acumular rejeições do que conciliar fatores positivos.
Numa fala – política, ainda mais – o sentido está mais no que é ocultado do que no que é dito, como no caso da declaração do deputado José Airton (as chances do PT estariam definidas pela popularidade da presidente Dilma).
Ao eleger o apoio federal como principal fator, admite que a gestão do seu partido não tem força eleitoral para prosseguir e só leva, com o argumento, mais lenha à fogueira em que a oposição pretende queimá-los.
Ora, a própria Luzianne já curvou o grande Lula uma vez. Nada impede que um conjunto de outros fatores levem de novo a cidade a recusar o prato feito, ainda mais quando é larga a percepção de que há tão pouco a defender.
Sim, o peso da máquina municipal, reforçado pelos mísseis balísticos de longo alcance Lula e Dilma, pode neutralizar pelo menos em parte as fraturas expostas de uma gestão da qual a cidade já se despediu.
Mas, mesmo admitindo a excepcional capacidade de influência deles, a pergunta permanece viva: somente por eles, o cidadão de Fortaleza aceitaria mesmo fechar os olhos para o que vê e deixar de sentir o que sente?
Na melhor das leituras, uma aposta de alto risco. Mas é o que estão prestes a decidir – alguns, curiosamente, convencidos de que duvidar do inexorável sucesso da empreitada é pouco mais do que um desvio burguês.
*Ricardo Alcântara,
Publicitário e escritor.