Com o título “O cinema, a cidade e o Centro Dragão do Mar”, o jornalista Magela Lima, editor-executivo do Núcleo de Cultura e Entretenimento do O POVO, comenta o absurdo de Fortaleza estar vendo seu principal equipamento cultural à míngua. O Dragão do Mar precisa ser resgatado com urgência. Confira:
Em 30 anos de vida, vi vários cinemas padecerem e morrerem em Fortaleza. Famoso pelo cardápio “proibido para menores”, o Cine Jangada se foi em 1996. Um pouco depois, logo no começo de 1997, o Diogo também se despedia da capital. Em 1999, era a vez do Cine Fortaleza fechar as portas. Em 2000, o bonitinho Studio Beira-Mar. Por fim, cinco anos mais tarde, o famoso São Luiz não resiste e, assim, nós perdemos nosso último cinema de rua. Triste sina.
Agora, eis que o Espaço Unibanco, depois de 13 anos aninhado no Centro Dragão do Mar, anuncia que não mais vai atuar na cidade. Com isso, Fortaleza é tomada de novo luto. Dimensionar a importância das salas do Dragão para a vida cultural de Fortaleza é tarefa fácil. Poderia puxar no tempo e elencar motivos mil para lamentar a ausência anunciada dos cinemas. No entanto, prefiro um exemplo recente: o elogiado Pina, de Wim Wenders, sobreviveu apenas uma semana nas salas de shopping e voltou a Fortaleza graças ao Espaço Unibanco.
Por essas e outras, a grife Espaço Unibanco vai nos fazer uma falta danada. E não só pela programação. O fim da parceria com o Centro Dragão do Mar – tanto do ponto de vista simbólico, quanto do ponto de vista prático – é muito preocupante. A direção do equipamento, porém, jura de pés juntos que nada vai mudar. O problema não é o futuro. Antes fosse. O problema é o presente. O Espaço Unibanco de Cinema está desistindo de Fortaleza, está desistindo do Centro Dragão do Mar. É isso que tem que se discutir.
Nos bastidores, fala-se que o Itaú, que comprou o Unibanco, não quer associar sua marca com um ambiente que julga degradado. Especula-se que a violência do entorno do centro cultural fez despencar o público das sessões noturnas nas duas salas. Enquanto isso, a direção do Dragão do Mar tergiversa, não vê nada de grave acontecendo e diz que o equipamento vive as dores da cidade como um todo. Definitivamente, esse tipo de argumento não cola. Sobretudo, porque não produz enfrentamento diante de situações delicadas como a atual. Pobre Dragão do Mar.
Magela Lima
magela@opovo.com.br
Editor executivo do Núcleo de Cultura e Entretenimento do O POVO