Com o título “Estaleiro na orla de Fortaleza é anacronismo”, o jornalista Waldemar Menezes manda artigo para o Blog expondo o porquê de ter sido contra a instalação de um estaleiro na praia do Titanzinho. Trata-se de uma resposta ao artigo do jornalista Luiz Henrique Campos veiculado no último sábado e aqui reproduzido. Dada a repercussão, Waldemar expõe aqui argumentos dos que ficaram contra o empreendimento nessa área da Capital cearense. Confira:
Como sou um dos formadores de opinião que apoiaram a manifestação dos especialistas que se colocaram contra o projeto do estaleiro na orla de Fortaleza, aplaudindo, inclusive, o documento do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Ceará (IAB-CE) tomo a liberdade de discordar do meu queridíssimo colega Luis Henrique Campos, no que tange a algumas observações sobre aquele projeto, no artigo “Cadê os defensores do Titanzinho”, publicado no O POVO deste sábado, e republicado neste espaço.
Além da bela reação da opinião pública contra a localização do estaleiro naquela área, houve gente (com mais conhecimento técnico do que eu) a chamar a atenção, dentre outros pontos, para o fato de que equipamentos desse tipo estão sendo removidos da orla de várias cidades pelo mundo, visto concorrerm extremamente para a degradação do entorno em que se localizam. Se não me engano, o respeitado arquiteto e urbanista Fausto Nilo falou sobre isso quando se referiu às consequências maléficas que viriam no rastro da obra – em palestra pontuada neste espaço -, tanto que se posicionou contra.
Evidentemente, lamento não se ter concretizado ainda a alternativa proposta pela Prefeitura para os moradores do Titanzinho. Suponho (não pude checar isso) que os cortes ocorridos no orçamento da União, desde que irrompeu a crise mundial, tenham alguma parte nisso (além da dificuldade de viabilizar um projeto desse tipo em curtíssimo espaço de tempo). No entanto, é imperativo que essas pessoas tenham uma resposta, o mais breve possível (nisso concordo com o Luis Henrique), dadas as condições em que vivem. Claro, isso, não deve ser justificativa para considerar que a alternativa do estaleiro naquela área fosse a melhor solução.
As atribulações dos moradores do Titanzinho podem ter conserto, mais cedo ou mais tarde. Porém, uma intervenção daquele porte é definitiva, provocaria danos irreversíveis na configuração urbanística da cidade, justamente em uma área de rara beleza, prejudicando a qualidade de vida dos fortalezenses (e, ainda por cima, destruindo um patrimônio paisagístico numa cidade que está apostando suas fichas na vocação turística, sintonizando-se com as vertentes mais contemporâneas da economia).
Além do mais, o problema dizia respeito também aos demais habitantes da cidade, e não apenas aos moradores daquela área. A opção por outro modelo de desenvolvimento (não predatório e sustentável) é uma bandeira da qual não devemos abrir mão, depois de toda a informação que hoje dispomos sobre os desregramentos do paradigma industrial ao longo dos dois últimos séculos.
A posição sobre o meio ambiente deve ser, hoje, o marco divisor das disputas políticas em nossa sociedade. Descobrir quem é quem nessa questão é fundamental para as opções políticas que teremos de fazer, seja em nível federal, estadual ou municipal. Ter essa consciência é uma exigência para quem quer exercer a cidadania com responsabilidade e tirocínio, pensando nas atuais e futuras gerações.
* Valdemar Menezes,
Jornalista.