“Pelo menos 318 homicídios foram registrados no Ceará, em janeiro de 2012. A média é de 10 assassinatos por dia. Foram 81 casos a mais do que no mesmo período do ano passado – ou seja, um aumento de 34,1%. O levantamento foi feito pelo O POVO com auxílio do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC). Foram utilizadas informações oficiais disponibilizadas no site da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
O levantamento mostra que houve um pico de homicídios nos dias 1º, 2 e 3 de janeiro, quando a Polícia Militar estava em greve no Ceará. Nesse período, foram registrados pelo menos 72 homicídios – uma média de 24 por dia. A maioria dos casos (39) foi em Fortaleza. Na Bahia, foram 180 mortes em 12 dias de greve da PM – uma média de 15 homicídios por dia.
Para os especialistas, o que ocorre no Ceará é uma prova de que a ausência de PMs nas ruas provocou uma onda de violência real. “A Secretaria da Segurança não fez um balanço das ocorrências nem na época nem depois do ocorrido. Não houve uma publicidade dessas informações, passando para a sociedade a impressão de que só houve boataria. Mas, realmente, houve casos de acertos de conta, de execuções”, cita o sociólogo e pesquisador do LEV Ricardo Moura.
No mesmo período do ano passado (1º, 2 e 3 de janeiro de 2011) foram 44 homicídios, 28 a menos. Os casos registrados em 2012 concentraram-se na periferia. “Durante a greve, essas áreas ficaram descobertas. Isso permitiu que rivalidades pudessem aflorar, acertos de conta pudessem ser cumpridos. Acentuou a violência que já existe nesses locais”, comenta o sociólogo.
Embora em menor quantidade, os assassinatos continuaram a ocorrer ao longo do mês. Não houve um dia de janeiro de 2012 sem homicídios no Ceará. Das 318 ocorrências registradas, 164 foram em Fortaleza, 46 na Região Metropolitana e 83 no Interior. Nos demais casos, não foi possível identificar o município, porque o local não havia sido informado ou o endereço era insuficiente.
A falta de informações mais detalhadas preocupa. “Os dados individuais – sexo, cor, idade, local de morte – são fundamentais para o trabalho de pesquisa. Sem esses dados, não tem como fazer um trabalho de compreensão da violência, de migração das ocorrências criminais. Muitas vezes, a universidade tem dificuldade em conseguir essas informações”, lembra Ricardo.”
(O POVO)