Com o título “Mau gosto não se discute, mas há limitees”, eis artigo do jornalista Gualter George, publicado no O POVO desta segunda-feira, que aborda o uso abusivo de carro de som em Fortaleza. O pior é que acompanhado de um repertório abaixo da crítica. Confira:
Em geral, até por um instinto de sobrevivência, nos sentimos obrigados a fazer um esforço para entender os novos tempos e buscar uma adaptação a eles. É natural que determinado comportamento proibido ou desaconselhável hoje seja permitido e aceito amanhã. Assim deve ser até um limite que considere regras básicas de uma convivência civilizada, parte das sociedades em qualquer que seja o seu tempo.
A música diz muito de como as mudanças se processam no comportamento das pessoas e da própria coletividade. Se é que a gente pode denominar música o barulho que saia de uma super-aparelhagem de som, destas que ocupam todo o bagageiro dos carros atualmente, numa tarde da semana passada, em dia útil, na avenida Dom Manoel. O que saia dali era um desfile de palavrões, um após o outro, os mais absurdos e inacreditáveis quando lançados ao público daquela maneira. Embalados sob o ritmo, até agradável, de um funk.
Mais do que sinal dos tempos, ali se explicitava o momento de degradação social que experimentamos. O outro lado da falta de liberdades individuais não é, ao contrário do que algum pensam, o direito de fazer o que quiser, sem qualquer respeito ao alheio. O olhar assustado e passivo das pessoas nas calçadas, mesmo que algumas até demonstrassem se divertir com aquele espetáculo grotesco, era o maior sinal de que o semblante de naturalidade do rapaz que seguia na direção do veículo não encontrava respaldo no mundo à volta dele. Respeite-se o seu direito ao mau gosto, desde que nos seja assegurado não compartilhar da mesma extravagância musical, artística ou o que seja.
Aliás, a discussão sequer deve ser levada ao âmbito cultural, inicialmente. É mais uma questão de entendermos a importância de regras de entendimento social que consolidem o limite dos nossos direitos vislumbrando o que é interessante do semelhante, de quem compartilha o espaço de uma cidade que pertence a todos.
* Guálter George – gualter@opovo.com.br
Editor executivo do Núcleo de Conjuntura do O POVO.
VAMOS NÓS – E a Lei do Silêncio, hein? Morreu mesmo.