“A disputa por um empreendimento na praia de Flecheiras, no município de Trairi, litoral oeste do Ceará, foi parar na justiça. Construído na década de 90, o hotel Solar das Flecheiras, é hoje motivo de embate judicial entre o empresário Décio Sanford e um grupo de investidores espanhóis.
A origem da discórdia iniciou-se em 2006 quando Décio Sanford, proprietário do Solar das Flecheiras, resolveu entrar num negócio envolvendo o hotel. O uruguaio Erick Carlos Steffen Laraia intermediou o arrendamento do empreendimento para o filho e a nora – Alexandre Cruz Steffen e Paula Regina Piloni.
O arrendamento foi fechado por um período de 84 meses, sendo que nos primeiros sete, a parcela de locação seria de sete salários mínimos. Depois disso, segundo Décio Sanford, o acordo previa o pagamento de 13 mínimos mensais. O contrato previa ainda a opção de compra do imóvel ao fim de 18 meses pelo valor de R$ 1 milhão.
Um mês antes de se completarem os 18 meses de contrato, o que se parecia um bom negócio, virou uma trama com acusações de suspeita de lavagem de dinheiro, registro de boletim de ocorrência e ameaças. Suspeitas que levaram o Ministério Público Federal a encaminhar à Polícia Federal o pedido de abertura de inquérito para investigar supostas irregularidades na entrada de recursos estrangeiros destinados ao arrendamento do Solar.
A entrada da PF e Ministério Público Federal se deu a partir da entrada de um grupo de investidores espanhóis. O Solar das Flecheiras, segundo O POVO apurou, seria uma peça na engrenagem a ser montada pelos investidores espanhóis que visava investir pesado no litoral cearense por meio do arrendamento ou compra de hotéis nos próximos cinco anos.
A entrada dos espanhóis no negócio, todavia, não se deu diretamente com Décio Sanford, e sim, através de várias modificações no contrato inicial de locação. Na época do arrendamento a Alexandre, o Solar das Flecheiras passou a se chamar Solar das Velas.
Em outubro de 2008, com o contrato social alterado, Alexandre vendeu todas as ações para a Quest Investimentos e Participações Ltda e a S&S Empreendimentos Imobiliários Ltda. Cada uma com 50% das cotas acionárias. O curioso é que Alexandre e a esposa eram os próprios donos da Quest Investimentos. A S&S Empreendimentos surge no negócio como uma empresa do clube de investimentos espanhol Inversiones Colo 73 S.I., sediada em Barcelona.
Menos de um mês depois do novo contrato, os espanhóis da S&S compram todas as cotas da Quest, e assumem o antigo Solar das Fleixeiras. Com um detalhe, transferem 100% das cotas para empresa a Orixás Patrimonial Negócios Imobiliários.
Ao transferir 100% das cotas para a Orixás Patrimonial Negócios Imobiliários, porém, os espanhóis da a S&S não deixam o negócio, já que também são sócios da Orixás. O Solar das Fleixeiras, que já havia trocado de nome para Solar das Velas, muda mais uma vez e passa a se chamar Nootka Beach Hotel.
ENTENDA A NOTÍCIA
O litoral do Ceará tem sido alvo nos últimos anos de vários litígios, envolvendo desde disputas de terra entre investidores estrangeiros e proprietários locais, bem como relativos a agressões ambientais.
SAIBA MAIS
Os advogados da Inversiones afirmam que como clube de investimento, eles tinham interesse em entrar no segmento de turismo no Brasil, por isso foi criada a Orixás Patrim. Negócios Imobiliários.
Os planos da empresa, que chegaram a ser apresentados a investidores em países da Europa, contemplava a criação de pacotes turísticos no Ceará.
Com relação as modificações no contrato inicial de arrendamento, os advogados afirmam que a S&S Empreendimentos é uma empresa brasileira com aporte de capital estrangeiro que tem como sócio o clube de investidores espanhol.
Segundo os advogados, quando ficaram sabendo que o Ministério Público Federal estava acompanhando o caso, eles teriam se antecipado e apresentado toda a contabilidade e a origem dos recursos investidos nos empreendimentos que seriam registrados no Banco Central.
O advogado Laerte de Castro ressalta que o Solar nunca deu lucro. Mesmo não tendo dado lucro no período em que esteve arrendado, os advogados afirmam que o grupo espanhol investiu cerca de R$ 1 milhão nesse período.”
(O POVO/Luiz Henrique Campos)