“Se houvesse malícia, eu ficaria ao lado da minha filha. Não pensaria duas vezes em ficar do lado dela”, disse à Agência Brasil a mãe da menina de 8 anos, cujo pai, um turista italiano, de 48 anos, está preso desde a última terça-feira (1º), no 2º DP na Aldeota, suspeito de ter abusado sexualmente da criança. Os nomes da mulher, de 38 anos, e de seu marido não são divulgados para proteger a menina, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A mãe contou que estava na piscina da barraca Croco Beach com o marido, a filha e mais outros dois casais de amigos e seus respectivos filhos. Segundo ela, o pai cuidava da menina dentro da água. “Não só meu marido e minha filha estavam na piscina. Estávamos todos na piscina. Ficamos lá por muito tempo. Ninguém nos abordou, ninguém nos advertiu, até o momento em que estávamos indo embora. Eles abordaram primeiro a minha filha e perguntaram quem era o homem que estava perto dela. Meu marido viu e foi perguntar o que estava acontecendo. Ele não fala português. Ele entende alguma coisa. Aí, não quiseram falar com ele, pediram apenas para que ele se identificasse”, contou.
Ela disse que foi ouvida informalmente na Delegacia de Combate à Exploração de Criança e Adolescente (Dceca), que apura o caso. Para a mãe, o casal que denunciou seu marido interpretou mal a situação e pensou que era um dos muitos casos de prostituição infantil que se espalham hoje por toda orla de Fortaleza.
“A minha opinião é que eles confundiram, interpretaram mal. Em meio a tantos casos de abuso sexual que já aconteceram, eles [as testemunhas] viram um homem, estrangeiro, branco, com uma menina muito mais escura. Não tentaram se informar e nem saber quem era. Imaginaram logo que era um estrangeiro que estava tentando ficar com uma menina de 8 anos. A denúncia foi motivada por um pouco de preconceito. Eles imaginaram outra coisa. Eles não sabiam que ele era o pai dela”, disse a mãe.
Construtor e morador da cidade de Goidonia, localizada na província de Roma, o italiano passa férias com a família no Brasil desde que se casou. “Não perdemos o vínculo porque temos casa aqui e eu tenho irmãs aqui.”, contou a mulher. O pai não chegou a ser ouvido pela polícia de Fortaleza. Segundo o boletim de ocorrência, ele se limitou a dizer que só falaria em juízo. A policia não providenciou intérprete para que ele pudesse prestar depoimento, uma vez que não fala português. O italiano está preso em uma cela pequena, onde tem apenas um colchão e um ventilador levado pela família.
A mãe é casada com o italiano há 11 anos. Eles se conheceram na Itália, onde ela mora há 15 anos. “Sempre trabalhei lá como garçonete e naquilo que aparecesse. Nós nos casamos e meu marido esteve pela primeira vez no Brasil depois do nosso casamento. Tenho toda minha família que mora na Itália. Não fui eu a primeira a ir para a Itália. A primeira foi a minha mãe. Depois foi a minha vó, minha tia e meus irmãos”, disse.
Quanto às acusações feitas pelo casal de turistas de que o italiano teria dado dos beijos na filha e acariaciado suas partes íntimas, a mãe assegurou de que não são verdadeiras. “O que eu espero é que tudo seja esclarecido. Esclarecido realmente, porque eu tenho certeza que nada aconteceu. Quando eles se referem a um beijo na boca, era só um ‘selinho’. Eu também saúdo a minha filha com um ‘selinho’. Já em relação a acariciar a partes íntimas dela, não são verdadeiras, absolutamente. Ele poderia estar ajeitando o biquini dela, mas não tem nenhuma malícia.”
“Em nossa casa não há nada que possa indicar abuso. É uma menina serena, alegre. É uma menina de 8 anos. Ela é muito apegada ao pai e ele também com ela. Ela é filha única. Eu perdi outros três filhos. Dois nasceram prematuros e pouco antes de vir para o Brasil eu tive um aborto espontâneo. Acho que destruíram a nossa família”, completou. O casal e a filha retornariam à Itália na última quarta-feira feira, 2.
Habeas Corpus
O advogado Flávio Jacinto, que defende o italiano, entrou neste sábado 5, com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Ceará. Ele quer urgência na decisão, já que o pedido anulação do flagrante feita à 12ª vara Criminal só deverá ser julgado na próxima terça-feira, devido ao feriado de 7 de Setembro.
Jacinto explicou que o primeiro pedido é baseado nas falhas nos depoimentos das testemunhas à polícia. “São duas testemunhas com depoimentos idênticos. Não muda nem uma vírgula. Por mais que se tenha um fato, cada um tem uma visão dele. Cada um vê de um ângulo diferente. Além disso, não se pode acusar uma pessoa com base apenas em depoimentos de uma pessoa”, explicou o advogado, que disse ter identificado uma série de irregularidades no inquérito policial. Por isso, ele quer a anulação do flagrante.
Já o habeas corpus apresentado neste sábado ao Tribunal de Justiça visa a acelerar a liberação do italiano. “Um caso como esse deveria ser julgado rapidamente pelo juiz de plantão. Não tem que esperar o feriado acabar”, destacou o advogado. Ainda não há decisão do TJ do Ceará sobre o assunto.
Caso fique comprovado o abuso, o artigo 217-A da Lei 12.015, que entrou em vigor no mês passado, prevê pena de 8 a 15 anos de prisão. ”
(POVO)