
Com o título “O legado do desembargador Jaime de Alencar Araripe“, eis homenagem, em forma de artigo, que seu filho, registrador Jaime Araripe Júnior, faz ao pai que, por seus serviços prestados, continua na memória do Judiciário do Ceará. Confira:
Com a presença do governador Camilo Santana, o Tribunal de Justiça do Ceará, à frente seu presidente, desembargador Francisco Gladyson Pontes , inaugurou, em agosto último, as novas instalações da Vara Única de Audiências de Custódia de Fortaleza. A edificação recebeu o nome de “Desembargador Jaime de Alencar Araripe”, meu pai, por sugestão da desembargadora Francisca Adelineide Viana e da magistrada Marlúcia de Araújo Bezerra, exemplos de senso de justiça e reconhecimento àqueles que honraram a judicatura cearense.
A solenidade fez nascer em mim o ânimo de escrever estas modestas linhas, numa quadra em que o país passa por aguda crise moral, secundada por graves crises econômica e política que maltratam , impiedosamente, nosso povo, em especial os mais pobres.
Falar sobre a vida limpa e o exemplo deixados por meu pai , apresentou-se como uma quase obrigação, da qual não poderia fugir.
Jaime de Alencar Araripe nasceu em Aurora, Ceará, em 1918. Tomou contato com as primeiras letras na escolinha do Profº Maciel. Vencida a primeira etapa , foi matriculado no conceituado Ginásio do Crato, à época dirigido pelo memorável educador Padre Francisco de Assis Pita. Ali, concluiu seus estudos preparatórios, sendo, ao final, escolhido orador de sua turma.
Vindo estudar em Fortaleza, e sempre afeito ao estudo, prestou vestibular na nossa centenária Faculdade de Direito, onde logrou aprovação em primeiro lugar.
Concluídos os estudos jurídicos, teve breve passagem pela atividade cartorária.
Mas, a sua verdadeira vocação era ser JUIZ.
No seu discurso de posse, no cargo de desembargador do egrégio Tribunal de Justiça do Ceará, pontuou: “ Viera eu de breve estágio na vida cartorária, e animava-me o fogo sagrado de um ideal: ser Juiz e dedicar a vida ao Direito, como sacerdote da Justiça. Sabia do que era a vida do magistrado – suas asperezas, as incompreensões que a cercam; as invejas que despertam; o remoinhar inconsequente de paixões desaçaimadas; a dura pobreza que lhe atormenta o viver. Missionário e apóstolo, conhecia eu do que, sertão adentro, os que juízes se faziam; mas, assenhoreara-me, também, do papel que desempenhavam os mesmos, no conciliar interesses, consertar erros e trazer ao grupo humano aquela paz, concórdia e tranquilidade, que se responsabilizam pela perfeição da vida comunitária”.
E, assim, submeteu-se ao concurso para ingresso na magistratura cearense, certame em que foi aprovado, também, em primeiro lugar.
Exerceu a judicatura em Várzea-Alegre, Assaré, Senador Pompeu, Itapipoca, Sobral e, finalmente, Fortaleza, sendo, daí alçado ao cargo de desembargador do egrégio Tribunal de Justiça do Ceará, pelo critério do merecimento.
No mesmo discurso de posse , realçou, ao final : “ vencidos quase três anos de estágio na judicatura metropolitana, vos venho eu, agora, trazer de volta , imácula e sacratíssima toga que sobre meus ombros fizestes descer ao limiar da carreira. Açoitaram-na os vendavais, zurziram-na, em fogo, as paixões contrariadas, inconfessadas por inconfessáveis. Sobra-lhe, porém, o que de indelével traz, como autêntica túnica sacerdotal. Preservei dos salpicos da lama, sabe Deus à custa de quantos sacrifícios anonimamente vividos na mesmeira dos dias de luta. Uma vida lisa e decentemente conduzida responde por isso. E é este, a esta altura , o meu reconfortante florão de glórias” .
Esse foi o barro que moldou Jaime de Alencar Araripe. Não deixou para a viúva e os filhos nenhum legado material, deixou-nos muito mais: o exemplo de uma vida pautada pelas mais excelsas virtudes que engrandecem um homem.
*Jaime Araripe Júnior
Registrador Público.
E-mail: jaimeararipe@gmail.com