
O presidente nacional interino do PSDB, senador Tasso Jereissati, é o entrevistado da Revista Veja, das Páginas Amarelas. O título é “Tasso Jereissati: “Esperavam mais de nós”. Aplaudido pelo público, mas atacado por tucanos, o presidente da sigla afirma que o sistema político faliu e admite ter até vergonha de dizer que é senador. Confira alguns trechos da entrevista que ele concedeu para Thaís Oyama:
V- No hoje famoso vídeo em que o PSDB admite que errou, fala-se dos escândalos de corrupção que “abalaram a confiança do nosso povo”. O envolvimento dos principais tucanos na Lava Jato foi o que mais afetou a imagem do partido?
TJ – Tudo afetou, a Lava Jato afetou. Mas o que quisemos mostrar no programa quando falamos do “presidencialismo de cooptação”, essa expressão que irritou tanta gente, foi que vivemos no Brasil um sistema político falido, que quebrou e precisa ser substituído. E faz parte desse presidencialismo de cooptação a disputa por cargos, por poder, por mais espaço na política — práticas que volta e meia acabam dando em corrupção. A nossa autocrítica foi de que acabamos agindo como se a política fosse assim mesmo. Ficamos de braços cruzados nesse cenário, às vezes até nos misturando com ele.
Não apenas se misturando como participando dele, segundo a Lava Jato. Afinal, Aécio Neves responde a cinco inquéritos no Supremo, José Serra responde a um e Geraldo Alckmin corre o risco de responder a inquérito no STJ. Tivemos problemas, sim, e esses problemas nos afetam seriamente. Agora, achamos que todos esses que têm problemas vão se defender, já estão se defendendo para provar a sua inocência. É o que a gente espera. Mas não posso negar que esses problemas nos afetaram seriamente. Isso é perceptível nas manifestações da população.
V- O que o senhor ouve das pessoas?
TJ – Ouço uma indignação muito grande em relação à questão da Lava Jato e à falta de espírito público dos políticos, cada qual cuidando de si. Com tantos problemas na saúde, na educação, tantos desempregados, só cuidamos de nós, só pensamos em nós — é assim que somos vistos.
V – O senhor se refere aos tucanos ou aos políticos em geral?
Existe essa má vontade para com os políticos em geral e com os tucanos em especial, porque as pessoas acreditavam mais no PSDB. O PSDB era um partido diferente. As pessoas esperavam mais de nós. E, quanto mais se espera, maior é a decepção quando a resposta vem diferente. E a decepção pode até virar ressentimento. Isso tudo está constatado. Infelizmente, chegamos ao nosso pior nível de aprovação. Mas vamos reconquistar essa confiança. Agora, sobre a classe política em geral, em qualquer roda de botequim, churrasco, fim de semana com a família, você vai ouvir a mesma coisa: que os políticos são horrorosos, que não prestam, que são todos iguais. E todos nós reconhecemos isso.
V – O senhor é político há mais de trinta anos. Tem orgulho disso?
Vou dizer uma coisa sinceramente: hoje, nem tanto. Já tive momentos de muito orgulho. Até porque fui governador do meu estado, e ser governador é sempre uma honra. Noto que as pessoas tendem a separar o político que ocupa cargos no Executivo — o governador, o prefeito — dos “políticos de Brasília”. Claro que os segundos levam a pior. Percebo uma mudança em relação aos primeiros anos em que fui senador. Você chegava a qualquer ambiente e sentia que o mandato inspirava respeito, era um sinal de prestígio. Hoje não é assim. Em alguns lugares a que você chega — meus pares que me perdoem, mas acontece comigo também, e por isso eu relato —, você até evita dizer que é senador.
TJ – Mas o senhor consegue escapar de ser reconhecido?
Sim. Outro dia, fui a um hospital em São Paulo visitar uma pessoa. Cheguei a uma sala em que estavam falando de políticos, descendo a lenha. Não me reconheceram e confesso que não falei nada, saí de fininho. Vejo muitas histórias como essa. O que acho impressionante é que a gente discute isso todo dia e, quando bota na televisão, o pessoal fica indignado.
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