Em artigo no O POVO deste sábado (25), o editor-adjunto do Núcleo de Conjuntura do O POVO, Luiz Henrique Campos, comenta as críticas mútuas entre o Governo do Estado e o grupo do Capitão Wagner. Confira:
No clássico A Arte da Guerra, um dos ensinamentos básicos diz respeito à estratégia a ser adotada no enfrentamento do inimigo no campo de batalha. Em linhas gerais, o pensamento do general chinês Sun Tzu, escrito há cerca de 2.500 anos, mas que permanece atual no mundo moderno, coloca três opções de decisão a depender do cenário e das condições objetivas existentes no conflito.
No primeiro, se o seu exército for mais forte que o do inimigo, ataque com força para destruí-lo imediatamente. No segundo, em sendo um pouco mais forte o do inimigo, ataque de lado, de surpresa, e calculadamente. No último e extremo caso, quando as forças inimigas forem bem mais fortes que as suas, corra o mais rápido possível.
Na última greve dos policiais militares no Ceará, o governo cometeu o pecado de não só minimizar a força do movimento como achou que poderia aos poucos ir minando essas forças. O resultado é que, quando tentou bater de frente, foi esmagado como consequência de cenário mal avaliado desde o início, que não permitiu a reação quando esta se mostrou necessária. Sucumbiu de maneira desmoralizante. Na guerra também, um grande risco é lutar contra o inimigo sem cara. Geralmente, o desconhecimento sobre com quem se luta, abre espaço para a surpresa. Foi o que aconteceu.
Agora, conscientemente ou não, o ex-governador Ciro Gomes, ao lançar suspeitas sobre o capitão Wagner, de certa forma personaliza o movimento dos policiais no oficial. Certa ou errada a estratégia, o fato é que se, na era moderna conquistar a opinião pública é fundamental, o governo, no mínimo, joga sobre os ombros do militar os riscos inerentes a uma paralisação como a de policiais. O capitão, em vista disso, terá que ter muita habilidade para conduzir o movimento, que, pelo perfil, caracteriza-se como barril de pólvora, sob pena de arcar com atos fora do convencional.
Do lado do governo, já nas cordas em relação à sensação de insegurança da população, a aposta foi alta, mas, nesse momento, parece seguir à risca os ensinamentos de Sun Tzu, segundo os quais, o comandante não pode prescindir, na batalha, de qualidades como o segredo, a dissimulação e a surpresa.