Editorial do O POVO desta segunda-feira (18) aponta o desânimo do brasileiro com a atual realidade do País. Confira:
Acumulam-se as informações colhidas nas pesquisas realizadas por institutos acreditados que confirmam um momento de desalento do brasileiro como poucas vezes há registrado na história do País. Um quadro preocupante, alarmante em alguns aspectos, e que exige uma estratégia de reversão que parecerá ineficaz se entendermos, como sociedade, ser uma tarefa unicamente de governo ou de políticos. É a alma do brasileiro que está ferida, significando que lidamos com um problema maior do que os efeitos de uma crise conjuntural que, como todas as outras, um dia será superada.
O instituto Datafolha, que foi às ruas das cidades brasileiras entre os dias 9 e 15 de maio último, colheu números assustadores. Um deles, para exemplificar o desafio que está posto: cerca de 43% da população adulta do País manifestou desejo de morar no exterior.
Quase a metade, demonstrando-se ainda mais absurdo que o índice suba a 62% quando o público consultado tem o limite de 24 anos de idade, ou seja, entre os jovens.
Há uma parte do sentimento captado que se pode atribuir ao efeito direto de um momento que acumula crises simultâneas e graves em quase todas as áreas importantes à vida do cidadão. A economia anda mal, a política experimenta fase de grande fragilização, as instituições de segurança não conseguem se impor sobre as instâncias marginais e, o que afeta de maneira definitiva a esperança no amanhã, o Judiciário nunca esteve tão exposto e questionado na sua credibilidade. Um conjunto de fatores que dificultam qualquer olhar otimista acerca do momento que o País vive e quanto às suas perspectivas quando se olha em direção ao futuro.
Um quadro grave? Sim. Preocupante? Claro. Porém, mesmo que a proporção fuja a uma certa lógica média nos momentos de depressão coletiva de um País, à medida em que as dificuldades econômicas, políticas e da vida pública em geral sejam superadas, e elas o serão, tais índices cairão e se poderá discutir com maior serenidade as necessidades de uma arrumação que nos permita ter de volta a alma autêntica do brasileiro, povo que tem sabido trabalhar limites e adversidades acreditando sempre no amanhã melhor.
O pessimismo não é de todo ruim, especialmente quando calcado numa realidade inegavelmente dura, mas uma sociedade precisa dosá-lo de maneira que não mate sonhos e nem inviabilize futuros. O Brasil é muito maior do que qualquer crise.