Da Coluna Política, no O POVO deste sábado (30), pelo jornalista Érico Firmo:
O Aedes aegypti se tornou o grande problema da saúde pública no Brasil, em plena segunda década do século XXI, como transmissor de ao menos três graves doenças: dengue, chikungunya e zika – esta última, relacionada à microcefalia. Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reúne seu comitê emergencial para discutir a decretação de emergência de saúde internacional por causa do zika, como ocorreu em 2014 com o ebola, no oeste da África. Nesta semana, a OMS fez reunião de emergência, em Genebra, Suíça, com Estados Unidos e Brasil. Há uma semana, os Estados Unidos emitiram alerta de viagem para 14 países da América Latina, inclusive o Brasil. A Casa Branca recomenda que mulheres grávidas ou que planejam engravidar evitem viajar para esses lugares.
Ao longo do século XX, o Aedes chegou a ser arredicado. No começo da semana, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse que o Brasil está “perdendo feio a batalha para o mosquito”. E apontou a evidência para tal: “Ano passado foi o que teve o maior número de casos de dengue no Brasil em toda a história”. Isso para não falar dos outros surtos relacionados. Sem receber a mesma atenção, o ministro já havia afirmado isso em dezembro. “A verdade é que essa batalha o mosquito tem ganhado”, disse, sem a mesma repercussão alcançada agora. Na sexta-feira passada, em entrevista à Revista O POVO, na Rádio O POVO/CBN, o ministro já havia feito autocrítica em relação à postura histórica do País nos últimos 30 anos: “Fomos um pouco lenientes”.
A fala do ministro causou mal-estar no governo, mas ele não disse mais que uma tremenda obviedade. O governo ficou incomodado. Houve rumores de demissão. Não confirmados, mas há movimentação para esvaziar o ministro. Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff (PT) tentou “esclarecer” o que o ministro falou. “A batalha não está perdida, não. Isso não é o que ele (Marcelo Castro) está pensando, nem o que ele disse. O que o ministro disse, é o seguinte: ‘Se nós todos não nos unirmos, e se a população não participar, nós perderemos essa guerra’. Ele está absolutamente certo”. Caciques peemedebistas, como Michel Temer e Eduardo Cunha, trataram de defender o ministro.
Melindres da política. A situação da saúde pública mostra que Marcelo Castro apenas fez uma constatação das mais evidentes.
Em novembro passado, o diretor do departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis, Cláudio Maierovitch, sugeriu às mulheres que não engravidem para evitar microcefalia. Há algumas semanas, o próprio ministro disse: “Vamos torcer para que as pessoas antes de entrar no período fértil peguem a zika, para elas ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não precisa da vacina”. Convenhamos, em matéria de declaração polêmica sobre o Aedes, reconhecer erros não foi o que de pior saiu do ministério.