Da Coluna Política, no O POVO deste sábado (25), pelo jornalista Érico Firmo:
A coluna do sábado passado tratou de cinco grandes interrogações diversas sobre a eleição para prefeito de Fortaleza. Sobretudo, relacionadas a personagens e grupos políticos.
A interrogação número dois já começou a ser respondida. Diz respeito à posição de Camilo Santana (PT). “O governador apoia Roberto Cláudio (PDT)”, escrevi há uma semana. “Camilo irá se envolver explicitamente na campanha na Capital? Como tratará a candidatura petista? Que apoio dará a Roberto Cláudio?”, indagava. Na entrevista a Fábio Campos, no programa Jogo Político, ele não poderia ser mais claro. Terá candidato, sim. E tomará sua posição independentemente do partido. Leia mais sobre a entrevista neste link: http://bit.ly/camiloPT
Outras dúvidas, porém, permanecem. Para além de nomes, envolvem aspectos simbólicos e assuntos que estarão presentes na discussão.
- O PESO DO DISCURSO POLICIALESCO
O discurso sobre segurança pública tornou-se bastante intenso nas eleições em Fortaleza, sobretudo desde 2000. Naquele ano, Moroni Torgan (DEM) foi uma das surpresas da eleição, com forte apelo devido ao histórico policial. Dois anos depois, o Delegado Cavalcante bateu recorde de votação para deputado estadual. Em 2004, foi indicado candidato a vice de Antonio Cambraia, ambos pelo PSDB. Em alguns momentos, foi tido como mais popular que o próprio cabeça de chapa. No final das contas, terminaram em quarto lugar. Moroni foi o segundo, depois de ter liderado o primeiro turno. Repetiu o desempenho em 2008. No intervalo, em 2006, disputou o Senado e perdeu para Inácio Arruda (PCdoB). Em 2012, Moroni foi quarto.
Capitão Wagner (PR) é o mais recente fenômeno eleitoral a despontar. Bateu recorde de votação para vereador em 2012e para deputado estadual em 2014. Ele tem perfil diferente do de Moroni. Defende interesses corporativos, sim. Mas evita se vincular apenas à área de segurança. E procura não reduzir a criminalidade a problema de falta de policiamento. Tem fala mansa e tranquila, diferente do estilo agitado e de murro na mesa de Moroni. É diferente do perfil clássico da “bancada da bala”.
Mas, ainda assim, é egresso do aparelho de segurança. O perfil tem feito sucesso em eleições legislativas, mas coleciona insucessos nas disputas majoritárias. A rejeição, no fim das contas, até hoje foi maior que a enorme aprovação. Veremos se a tendência irá se manter ou se o estilo Wagner se revelará mais palatável.
- O DESTINO DO “VOTO REBELDE”
De uma forma ou de outra, costuma se manifestar algum grau de rebeldia, contestação, ousadia no voto do fortalezense. A busca por algo diferente, fora do previsível, seja à direita ou à esquerda. Maria Luiza Fontenele em 1985 e Luizianne Lins, em 2004, foram exemplos mais emblemáticos. Mas não os únicos. Em 1988, Edson Silva teve votação estrondosa, embalado pelo movimento “Fortaleza sim, Cambeba não”, embora tenha saído derrotado por diferença ínfima. Ao longo da década de 1990, Juraci Magalhães dominou a Capital ajudado pela rejeição ao PSDB, que comandava o Estado. Em 2000, Inácio Arruda perdeu, mas teve enorme votação. Em 2012, Heitor Férrer (PSB) quase deixou Roberto Cláudio fora do segundo turno. E Renato Roseno (Psol) teve votação bastante expressiva.
Esse voto muitas vezes não foi vitorioso. Mas quase sempre se manifesta e interfere no rumo da eleição. Para onde esse eleitor irá? Heitor? Roseno? Conseguirá Wagner atraí-lo? Voltará a Luizianne? Irá se diluir?
- FATOR LAVA JATO
A Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff (PT), a crise nacional serão fatores certamente determinantes. Estimularão discurso de ética, combate à corrupção. Afetarão atores estratégicos. Como mexerão com a disputa em Fortaleza é difícil saber. Que vão mexer, isso é certo.