Da Coluna Valdemar Menezes, no O POVO deste domingo (27):
O Ceará aparece, mais uma vez, no noticiário nacional (e internacional) como um lugar de intolerância, ódio e preconceito. Na primeira vez, o destaque decorreu da insólita agressão aos cubanos do programa Mais Médicos, em 2013, e, agora, se traduziu no cerco, ameaça de agressão física e insultos contra o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), João Pedro Stédile, protagonizados por um grupo de extremistas de direita, na ocasião em que ele desembarcava no aeroporto Pinto Martins para participar – a convite – do Seminário sobre Corrupção e Reforma Política, realizado na UFC, na última terça feira.
As próprias palavras de ordem – “Vá para Cuba e leve o PT” – revelam o completo descolamento dos extremistas em relação ao presente momento histórico mundial. É de um anacronismo estupefaciente. Ademais, destoam por completo do espírito acolhedor e tolerante dos cearenses e de seu papel vanguardista na história libertária do País (vide as lutas pela Independência e pela Abolição da escravatura).
Além de condenados pela consciência esclarecida (no Brasil e além-fronteiras), os agressores têm o dissabor de testemunhar a avidez cada vez maior com que os americanos se acotovelam nas filas de espera dos aeroportos, no aguardo da ansiada ordem de embarque… “para Cuba”. As imagens da agressão expostas nas redes sociais percorrem o mundo e mancham o perfil tolerante e democrático do Brasil, reforçadas pela notoriedade do agredido, o líder de um dos movimentos campesinos mais destacados da contemporaneidade.
Por burrice dos agressores, o atentado foi dirigido contra um dos mais destacados interlocutores do papa Francisco, no movimento social da América Latina, justamente no momento em que o líder da Igreja Católica ganha todas as atenções do mundo pelo seu empenho em favor dos desfavorecidos. O próprio Stédile já foi recebido mais de uma vez pelo pontífice, não por razões ideológicas, mas, pelos aspectos humanos e sociais da causa que ele advoga.
Em outubro passado, o papa promoveu, no Vaticano, o I Encontro Mundial dos Movimentos Populares, e um dos convidados principais foi Stédile. Recebeu-o também, na Bolívia, quando da visita pastoral ao país, este ano, onde participou do II Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Ninguém é obrigado a concordar com o papa, nem com Stédile, mas, a discordância deve vir calçada em argumentos, não em coação descabida.