Com o título “Jesus e a espera do seu retorno (reflexões e leitura de palavras e de corações)”, eis artigo de Margarida Pimentel, professora adjunto da Universidade Federal do Ceará. Aborda estes tempos natalinos. Confira:
Então, é Natal! Esperançosas, as pessoas falam na vinda, no retorno, do Salvador…
Jesus, o Cristo, homem de plena amorosidade e sabedoria, andava de sandálias velhas, roupas velhas, barba e cabelos longos, rodeado de homens e mulheres, que a sociedade marginalizava, de pescadores a prostitutas. Filho (adotivo) de carpinteiro e de uma mulher que engravidou antes do casamento.
Além daquela humilde mulher, o anjo soprou aos ouvidos apenas daquele carpinteiro que, por amor e fé, casou-se com aquela mulher, que talvez fosse ser apedrejada, em vista aos rigores da época. Mas, o anjo disse-lhe, que ela, na verdade, estava “cheia de graça”. Os dois, até na humildade, “enfrentaram” a sociedade, formando uma família fora dos padrões. Ambos, José e Maria, desde cedo fizeram tudo, noite e dia, para salvar, no advento, aquele menino que esta mulher carregava no ventre.
Para ele nascer, até precisaram se esconder. Naquela aflição, ninguém os acolheu, na madrugada, que já se fazia: uma mulher pobre, prestes a parir, sobre um jumentinho, com um homem pobre conduzindo o animal, e que não podia pagar hospedaria. Ambos não encontraram quem lhes abrisse as portas, nem de casa nem do coração (temeroso?). Ambos, fugindo, não precisavam somente de abrigo, mas de um lugar que lhes fosse segurança e esconderijo. As pessoas das casas não os acolheram e o abrigo foi num estábulo, entre as palhas que serviam de alimento aos bichos e o estrume. Nasceu Jesus! Cresceu como qualquer criança pobre. Era admirável pela sabedoria que apresentava, já que não tinha/teve acesso à “educação”, assim como tiveram os filhos da realeza, dos donos do poder e dos “doutores da Lei”.
Adulto distribuiu AMOR, SABEDORIA e ESPERANÇA. Isso fez milhares de pessoas humildes acreditarem que eram humanos e não bichos. Assim, Jesus Cristo uniu pessoas, reuniu multidões, pois, segundo Ele, a maior riqueza está no coração e, diferente do que é material, não diminui, e sim aumenta, se é partilhado: o AMOR.
Tamanho poder gregário chamou, de fato, a atenção: como pode? Como um homem pobre, que se abrigava na casa de pessoas marginalizadas, fazia refeições na casa de cobradores de impostos (também pobres que cumpriam ordens), o filho adotivo de um carpinteiro… como conseguia reunir tanta gente e passar a elas confiança em si e na vida?
Para os “donos da sociedade” e “doutores da Lei”, pobre nasceu apenas para obedecer, ser escravo, ter baixa autoestima para permanecer servindo. Assim, era inadmissível o que aquele homem fazia, o que havia produzido. As pessoas humildes não deveriam ter autoconfiança, pois isso poderia ser uma ameaça ao bem estar dos que estavam no topo da pirâmide social.
Nesse contexto, Jesus foi primeiramente testado. Esperavam que ele se perdesse em suas palavras, pois, nesse sentido, haveria motivos para tirá-lo de circulação. Assim, o indagaram sobre o pagamento dos impostos. Era justo, pagar altos impostos? Qual a resposta daquele que pregava a fraternidade, acolhida e partilha?: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Pois é, nada de crime.
Ainda assim, continuaram atentos à “rebeldia pacífica” daquele Homem. Finalmente, encontraram na fragilidade, desespero e ganância em um daqueles que andavam com Jesus, a porta aberta para deter-lhe. Um frágil e ambicioso discípulo, por “moedas”, entregou aquele único Ser que buscou ensinar o caminho da paz interior e que, na firmeza da irmandade, todo ser humano tinha (tem) valor. Mas, Judas o entregou.
A prisão e tortura imposta a Cristo foi inimaginavelmente cruel! À crucificação, imposta aos piores criminosos da época, foi adicionado um grau a mais de requintes de crueldade. Ao murmurar que tinha sede, deram-lhe vinagre. Àquele que reinava entre os pobres enfiaram na cabeça uma coroa de espinhos. O sangue que escorreu se uniu ao sangue que já havia no corpo, pelas pancadas que levara, ao longo das ruas. Não bastava crucificar. Os algozes, os guardas da segurança, tinham prazer em chicoteá-lo ao olhar de todos, que escolheram deixar Barrabás livre e crucificar aquele homem, que nem Pilatos encontrou crime ou culpa. Mas, este último também havia lavado as mãos. Aquela água que lavou as mãos de Pilatos, na verdade, na verdade, representava o sangue que seria derramado.
Nesse contexto insano de crueldade, Jesus, o Cristo, antes de morrer, ainda pediu perdão ao Pai, pois todos aqueles “não” sabiam o que estavam fazendo (ou dizendo). Ao final, entregou o seu Espírito.
Após tudo acontecido, consumado, o tempo se fechou. A escuridão (depressão) tomou de conta das multidões. O que adiantava ter eliminado o inimigo dos donos da sociedade, se o povo depressivo não servia para trabalhar, já que não tinham forças?
E aí? O que fazer?
Que tal, começar do zero? Pensaram.
Assim, o calendário mudou.
Para fazer as pessoas reagirem, os mesmos algozes criaram a ideia de que o sacrifício leva aos céus e que Aquele Homem (que aceitou morrer por todos), voltaria um dia. Sim… Voltaria! Cabia às pessoas serem fiéis, seguirem na crença da redenção, serem obedientes a Deus. Deus, acima de tudo!
Cristo, por sua vez, havia ensinado que a vida não era somente aquilo terreno em que se vivia, que a salvação vinha do Nosso Pai Celestial. Isto é: se há um Pai Celestial, que é de todos, então somos todos irmãos e irmãs. E, principalmente, ensinou que a salvação ocorre na alma, no interior. Desviou o olhar de que a salvação, a satisfação, a plenitude, estão fora. A salvação é encontrada naqueles que têm o poder das decisões sociais, que têm maior riqueza material, que têm títulos?
A Salvação, esta que é presente do Deus Pai, depende de um trabalho interior profundo, de olhar sem julgamento. O amor é paciente, não julga, acolhe, é compaixão e nos faz grandes. Partilhar… Amar… Fazendo isso, aí, sim, poderemos, como filhos de um mesmo Pai Celestial, enxergar que Cristo já pode estar entre nós, que está dentro de si, no Amor Puro; no Amor aos iguais, aos diferentes, aos animais, à natureza: natureza ambiental e humana!
Assim, viveremos um FELIZ NATAL, DIARIAMENTE!
Paz, luz e bem!
*Margarida Pimentel,
Professora adjunto da UFC.