Com o título “Na virada, um mar…”, eis artigo de Cristina Holanda, historiadora e presidente da Fundação Memorial Padre Cícero. Ela aborda o Réveillon de Juazeiro do Norte e suas contradições e peculiaridades. Confira:
No Juazeiro do Norte, o ritual da “virada” de um ano inclui reunir a parentada e amigos, seja na pequena área rural ou na cidade. Cada esquina um estilo de música, com as cadeiras e mesas nas calçadas. Ou debandar para os passeios nas praças, restaurantes e bares, abertos em profusão, por todos os cantos.
Quem quer ambientes mais sofisticados e restritos, vai para a Lagoa Seca, essa “Aldeota” que em nada consegue dialogar com outros bairros, muito menos os periféricos que, aliás, interrompem as Festas de Reis, iniciadas perto do Natal, nesse último dia do ano, e até as tradicionais Renovações, para dar passagem ao ano vindouro. Aqui também investem no réveillon, sob os mesmos argumentos da capital: marketing cultural, promoção turística, geração de ocupação e renda. Fazem a queima de fogos e organizam os shows de forró e sertanejo que tocam em todo País, na principal praça da cidade, com decoração natalina, de presépio a trenó de Papai Noel.
O logradouro que leva o nome do patriarca local é o deleite de inúmeros romeiros que são, há tempos, seu principal público, a despeito do grande número de pessoas que ainda fixa residência no perímetro central, onde está o intenso comércio popular. Tem quem queira ficar mais perto do Padim e vai aguardar a passagem de ano no Horto, abandonando o sacrifício pela contemplação festiva. Alguns optam pelo grande restaurante, quase ao lado da estátua, com vista panorâmica, criado há algum tempo.
Mas há os que buscam lugares ermos como a Pedra do Vento, de clima ameno e paisagem bucólica, que atrai pessoas de todas as tribos e cultos, inclusive os que afirmam ser o Juazeiro “de Jesus” e não somente do Padre Cícero.
Seja de onde for, a visão noturna, do alto do Horto, é impressionante. Outro oceano, feito de luzes cintilantes, nos banha por todos os lados. Nessa data, esse “mar” ganha um colorido especial e saltitante, em razão dos fogos de artifício em diversos pontos do território juazeirense e das cidades vizinhas, como outro ritual de “passagem”, sem que a gente saiba com exatidão onde começa e termina o espetáculo de cores e sons.
*Cristina Holanda
crisrholanda@gmail.com
Historiadora e presidente da Fundação Memorial Padre Cícero.