Da coluna Menu Político, no O POVO deste domingo (3), pelo jornalista Luiz Henrique Campos:
A violência física talvez seja a manifestação que mais aproxima o homem da irracionalidade animal. Infelizmente, ninguém pode garantir que esteja livre de um dia cometer atos dessa natureza, graças ao nosso instinto animalesco, que pode variar de pessoa a pessoa. Ações do tipo têm levado a humanidade às guerras e aos conflitos que chocam pela insanidade expressa nesses atos, beirando a barbárie. Mas da mesma forma que o homem é capaz de produzir cenas dantescas de violência, é também capaz de se surpreender com essas cenas, sem que, no entanto, as assuma como parte de seus instintos e visões de mundo. É assim com grupos organizados que não se acanham em justificar a violência como método para a obtenção de objetivos.
Na política, onde as tensões se manifestam de maneira mais intensa, a violência física, seja por meio de ocupações territoriais, torturas, quebra-quebra e até morte, são muitas vezes aceitas por certos setores favoráveis a determinadas causas como atos legítimos a se justificar pelo fim que encerram. Vivemos nas últimas semanas situações nas quais jornalistas foram agredidos, prédios foram depredados, sem que os autores desses atos tenham se intimidado ou feito mea culpa disso. As ações violentas perpetradas por esses grupos, todavia, não são novas, muito menos desconhecidas. Somente em relação aos trabalhadores da construção civil foram realizados diversos boletins de ocorrência em virtude de vandalismos protagonizados em canteiros de obras.
Ressalte-se que em anos anteriores exemplos de vandalismo sempre foram comuns em manifestações da categoria. É claro que nem sempre esses sindicatos representam a totalidade dos trabalhadores, mas, o que se passa para a sociedade, é que todo operário da construção é baderneiro, por ser menos instruído. Não é verdadeira a premissa. Vandalismo, agressões e truculência não são exclusivos da construção civil, ou de categorias de trabalhadores que, em tese, teriam menor qualificação intelectual. A questão, na realidade, passa pela capacidade desses grupos de se legitimarem como porta-vozes de uma luta que extrapola as demandas das categorias a quem dizem representar, usando muitas vezes os trabalhadores como instrumento de manipulação.
E aí, vale a violência, o uso da força física como meio para apregoar a garantia de conquistas, mesmo que isso implique em destruir a imagem dos trabalhadores como categoria laboral. Basta ver quantos desses ditos sindicalistas voltam ao trabalho depois que entram nas entidades sindicais. Há deles, que passam bem mais tempo nas diretorias dos sindicatos, do que propriamente nas empresas, se for contar o tempo para aposentadoria. Para manter essa estrutura, é preciso, todavia, criar mecanismos de manutenção permanente, como os grandes confrontos, que quase sempre caminham para a tensão até o seu limite, que não raro, pode levar à violência. Em nome dessa estratégia, fecham hospitais, paralisam aulas por meses, furam pneus de ônibus, dilapidam o patrimônio público, criam pânico. Vale tudo para atingir os fins, que nem sempre se ajustam às demandas dos trabalhadores. Vale tudo para se perpetuarem à frente das direções sindicais na suposta defesa da categoria, nem que, para isso, tenham de jogar os que dizem defender contra a sociedade. Vale até a violência física como justificativa para a conscientização do homem trabalhador, mesmo que isso os aproxime da irracionalidade.