Com o título “Tocha de elite”, eis artigo do professor e geógrafo José Borzacchiello da Silva, da UFC. Ele estaca os atletas brasileiros, em sua maioria de origem humilde e que merecem, apesar dos contratos do certame, todo apoio. Confira:
Jogos Olímpicos Rio 2016 chegam à América do Sul e a comunidade esportiva internacional acompanha todo o movimento em torno de evento histórico propugnador do esporte. São quase 11 mil atletas de cerca de 200 países que participarão dos Jogos Olímpicos com sua origem na Grécia no ano de 776 a.C., na cidade de Olímpia. A Europa é de longe campeã das sedes dos Jogos Olímpicos, reiniciados em 1896, por iniciativa do francês Pierre de Fredy, conhecido como Barão de Coubertin.
Na versão moderna foram retomados em Atenas, com 285 atletas de 13 países. A partir daí tornou-se um marco dos grandes eventos globalizados com a missão de promover a aproximação entre os povos a partir do esporte. Por sua magnitude, foi impossível ficar imune à glamourização e mercantilização, com vendas de direitos de transmissão e de uso de marcas e imagens, desfiles de grifes… Os jogos são também um grande negócio.
No Brasil, apesar de todas as críticas, os jogos ganharam adesão popular que prestigia os desportistas merecedores de uma tocha de elite. A expressão em latim “Mens sana in corpore sano”, significa: “mente sã em corpo são” e é parte de uma frase do poema Sátira X, do poeta romano Juvenal, que diz ainda “Reze para que a mente seja sã dentro de um corpo são. Peça uma alma forte que não tema a morte, que ponha o comprimento da vida entre as bênçãos da natureza…”
Não podemos esquecer que grande parte de nossa elite esportiva é constituída por atletas de origem humilde, verdadeiros heróis que transpõem obstáculos para colocar o Brasil no pódio. Por questão de justiça é deles o direito primordial de conduzir a tocha olímpica. O famoso Fogo Olímpico é um importante símbolo das Olimpíadas e comemora o roubo do fogo do deus grego Zeus por Prometeus. Sua origem reside na Grécia Antiga, onde o fogo era mantido por toda a celebração nos Jogos Olímpicos da Antiguidade. A tocha olímpica, com seu significado ancestral, foi reintroduzida nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã.
No Brasil, algumas pessoas alheias ao esporte ganham visibilidade conduzindo a tocha pelas ruas de nossas cidades. Um evento da monta dos Jogos Rio 2016 dificilmente consegue fugir da espetacularização da mídia. Sua grandiosidade gera especulação e críticas duras referentes aos custos dos investimentos realizados para a instalação da infraestrutura necessária à realização dos jogos.
No Rio várias comunidades foram removidas em nome da construção da Cidade Olímpica. Várias operações urbanas envolvendo os setores públicos e privado vêm à tona quanto à desconfiança de superfaturamentos. Os Jogos Olímpicos Rio 2016 acontecem num momento em que a sociedade brasileira está fragmentada diante de desmandos e desrespeito à democracia, à ordem e ao direito.
Comemoramos muito a escolha do Rio de Janeiro para sediar os Jogos. Agora temos obrigação de fazer com que nossa elite esportiva conduza a tocha com orgulho e galhardia. São jovens que sacrificam os melhores anos de suas vidas ajustando seus corpos às diferentes práticas desportistas. A eles nosso respeito e admiração. Eles são a elite de nossos jogos. A eles, a tocha.
José Borzacchiello da Silva,
borza@secrel.com.br
Geógrafo e professor emérito da UFC.