
Várias entidades ligadas às universidades do Ceará estão divulgando um manifesto nestes tempos de violência. Entre as queixas, o fato de janeiro já ter registrado 482 homicídios, com casos em sua maioria na periferia de Fortaleza. Confira o teor da nota:
Manifesto de Repúdio e solidariedade
Nós, grupos abaixo-assinados, viemos manifestar nosso repúdio e indignação com o estado de violência e do que consideramos extermínio, principalmente da população jovem, negra e pobre das periferias de Fortaleza e em outras regiões do Ceará. O ano de 2017 ficou marcado como o mais violento da história local, ultrapassando cinco mil crimes violentos letais e intencionais. Ainda sob forte impacto desses acontecimentos, a sociedade cearense foi surpreendida, no primeiro mês de 2018, com o agravo do quadro de violência. Nosso estado foi palco de outras duas grandes tragédias: a Chacina de Cajazeiras, que vitimou oito mulheres e seis homens, a maior parte jovens e, inclusive, uma criança; e a Chacina na Cadeia Pública de Itapajé, na qual 10 presos foram assassinados.
Com aproximadamente 482 homicídios, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado, janeiro de 2018 foi o mês do ano mais violento desde 2013. É, portanto, inadmissível minimizar a gravidade das chacinas e dos assassinatos que vêm ocorrendo de forma crescente na Capital e no Estado do Ceará, tomando tais ocorrências como “casos isolados”, em que vidas estão sendo absurdamente eliminadas sem que providências efetivas sejam apresentadas pelo poder público, através de órgãos competentes.
Também nos indignamos com as tentativas de justificação desses assassinatos, sob a alegativa de possíveis envolvimentos das vítimas com crimes e com o tráfico de drogas. Nosso compromisso com a produção de conhecimentos e com práticas sociais críticas à realidade nos leva ao entendimento de que a rede de violência instalada em nosso estado é complexa e se expande conforme o aumento da desigualdade social. Agir dentro da legalidade e combater as injustiças e iniquidades sociais deveriam ser o eixo condutor de uma POLÍTICA de segurança pública na qual “toda vida importa”.
Consideramos, portanto, necessária a mobilização da sociedade civil para que não se prolongue este estado de exceção em que vivemos nos últimos anos. Não queremos e não estamos indiferentes a ele, que vem fazendo vítimas e deixando familiares, amigos e pessoas próximas com suas dores e perdas sem eco e sem visibilidade.
Ao mesmo tempo, expressamos nosso sentimento de pesar e compartilhamos com o sofrimento de tantos que estão aterrorizados frente à incerteza, ao desamparo e à angústia quanto à expectativa dos desdobramentos futuros dessa situação, e até a incerteza sobre uma próxima chacina.
Como coletividade, queremos manifestar a nossa solidariedade às famílias enlutadas e, em associação com os movimentos sociais organizados, atuar na perspectiva de contribuir para interromper esta cadeia de violência.
Estamos juntos e juntas nesta luta.
Fortaleza, 22 de fevereiro de 2018.
Assinam:
1. Grupo de Pesquisa Linguagem, Práticas Culturais e Cidadania/UFC
2. Liga de Direitos Humanos/UFC
3. Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisa sobre a Criança – NUCEPEC/UFC
4. VIESES/UFC: Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação
5. Núcleo de Psicologia Comunitária – NUCOM/UFC
6. Núcleo de Psicologia do Trabalho – NUTRA/UFC
7. Núcleo de Estudos sobre Drogas – NUCED/UFC
8. Laboratório de Práticas e Pesquisas em Psicologia e Educação – LAPPSIE/UFC
9. Grupo Diz Juventudes/UFC
10. Grupo Travessias/UFC
11. Grupo Kilomba/UFC
12. Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia – GRIM/UFC
13. Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Poder, Cultura e Práticas Coletivas – GEPCOL/UFPE
14. Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa da Infância e Adolescência Contemporâneas – NIPIAC/UFRJ
15. Associação Nacional Rede de Pesquisadores e Pesquisadoras da Juventude Brasileira – REDEJUBRA
16.Laboratório de Pesquisa em Psicologia Ambiental – LOCUS/UFC
17. Grupo de Estudos e Pesquisa da Pedagogia Paulo Freire – GEPPF/UFPB
18. Grupo de Pesquisa Ludicidade, Discurso e Identidade nas Práticas Educativas – LUDICE/FACED/UFC
19. Laboratório Artes e Micropoliticas Urbanas – LAMUR – PPGArtes ICA|UFC
20. Núcleo Interdisciplinar de Intervenções e Pesquisas sobre a Saúde da Criança e do Adolescente – NUSCA/UECE
21. Laboratório de Estudos da Habitação – LEHAB/UFC
22. Laboratório dos Sistemas Complexos Família e Comunidade – LESPLEXOS/UNIFOR
23. Laboratório Psicanálise, Cultura e Subjetividade – LAEPCUS/UNIFOR
24. Programa de Pós-Graduação em Psicologia/UNIFOR
25. Rede Internacional Coletivo Amarrações – Psicanálise e Cultura
26. Coletivo de Professores do Curso de Psicologia da UNIFANOR
27. Eixo de Pesquisas “Filosofias da Diferença, Tecnocultura e Educação” do Programa de Pós-Graduação em Educação/UFC
28. Laboratório de Psicanálise/UFC
29. Núcleo de Estudos e Pesquisas de Gênero – NEGIF/UFC
30. Núcleo de Psicologia Social e do Trabalho – NUSOL/UECE
31. Laboratório de Pesquisa em Psicologia, Subjetividade e Sociedade – LAPSUS/UFC
32. Nexus – UFC/Sobral
33. Rede de Estudos e Afrontamentos das Pobrezas, Discriminações e Resistências – REAPODERE/UNILAB
34. Laboratório de Seguridade Social e Serviço Social – LASSOSS/UECE
35. Grupo de Pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional – GPSAN/UECE
36. Coletivo GRAÚNA: Professores por uma Educação Democrática
37. Laboratório de Psicanálise – LAPSU/UECE
38. Laboratório de Estudos da Aprendizagem, Subjetividade e da Saúde Mental – LADES/UECE
39. Núcelo de Atenção Psicossocial à Comunidade – NAPSI/UECE
DETALHE: As universidades estão divulgando uma programação para discutir a questão da violência. De 26 a 28 deste mês de fevereiro, inaugurando o semestre de 2018.1, professores de diferentes áreas que aderiram ao movimento vão pautar a temática na sala de aula. A proposta do grupo é promover, nos próximos meses, seminários e eventos sobre a prevenção e o enfrentamento aos homicídios em diferentes departamentos das universidades.
(Foto – Evilázio Bezerra)