Em artigo no O POVO deste domingo (20), o sociólogo e professor da Universidade Federal do Ceará, André Haguette, ressalta que “Tasso implantou uma nova maneira de fazer política”. Confira:
Este jornal foi feliz em relembrar “Os 30 anos da eleição que transformou o Ceará”. A eleição de Tasso Jereissati, com efeito, marcou tão profundamente a sociedade cearense que é possível falar sem exagero do Ceará antes e depois dos três governos de Tasso sem desmerecer os outros governadores. Tasso implantou uma nova maneira de fazer política, uma nova forma de tratar a relação sociedade/estado e um novo modelo econômico e social que perdura até hoje, embora precise de uma renovação. Os governos que seguiram, os de Ciro Gomes, Lúcio Alcântara, Cid Gomes e Camilo Santana, trilharam o caminho inovador desbravado por Tasso; foram governos de continuidade o que consolidou o modelo e trouxe benefícios ao Ceará.
A primeira eleição de Tasso resultou do encontro de vários movimentos: um movimento seminal iniciado por jovens empresários que, no CIC, passaram a agir na e pela sociedade e não somente como instrumento da classe empresarial; a atuação do CIC transbordou interesses privados e foi ao encontro de diversos movimentos da sociedade que trabalhavam para restabelecer a democracia e uma nova economia. O movimento Pró-Mudança sob a liderança de Amarilio Macedo foi particularmente importante ao mobilizar parte da classe média para discutir projetos políticos para o Ceará. O então governador Gonzaga Mota foi audacioso ao apoiar a candidatura do jovem empresário. Claro, o Brasil inteiro estava em ebulição e euforia devido à queda dos governos militares; em todos os estados menos dois, governos de oposição, do MDB, foram eleitos.
Tasso tratou de restabelecer a saúde das finanças do Estado, adotando um regime de responsabilidade fiscal, livrando-se, primeiro, do uso fisiologista e clientelista do poder público. Assim fazendo, embora enfrentasse a reação de interesses corporativistas, o governador foi capaz de pensar um Ceará grande, além da agricultura de subsistência, introduzindo mudanças econômicas, sociais estruturais e multiplicadoras como, entre outras iniciativas: a industrialização do interior; a indústria do turismo; a convivência com a seca mediante o Castanhão e o Caminho das Águas, hoje rebatizado de Eixão das Águas; a informatização de toda a administração do Estado; um pesado investimento na Funceme; estradas e obras estruturantes como o Complexo Industrial e Portuário do Pecém; um moderno aeroporto e o metrô de Fortaleza; a fruticultura e floricultura; a implantação de agentes de saúde em todos os municípios cearenses, programa que se disseminou pelo Brasil inteiro; o Projeto São José; a municipalização do ensino fundamental que deu origem ao Fundef e ao Fundeb nacionais; a criação da Urca, da UVA e da Funcap; o concurso único em 124 municípios; a universalização da matrícula escolar no ensino fundamental; a ampliação da rede de ensino médio e a educação de jovens e adultos; a construção e equipamento de Liceus; uma diminuição drástica da mortalidade infantil; no interior, o fornecimento de água potável em torneiras e a eletrificação etc. O período inventou o Ceará de hoje.
A “era Tasso”, como foi chamado o período em que Tasso foi governador, não tirou o Ceará da miséria ou da pobreza; o semiárido continua pesando fortemente. Mas deu um novo alento e abriu perspectivas novas. Se o Ceará continuou pobre e dividido após Tasso, ele já não era mais o mesmo.