Com o título “O Brasil, o Governo e a crise”, eis artigo do professor Uribam Xavier, do Departamento de Ciências Sociais da UFC. Ele analisa o cenário político da crise institucional, econômica, moral e política do País. Para ele, o PT administrou pensando, única e exclusivamente, em se perpetuar no poder. Confira:
No Brasil, além da crise institucional e econômica, estamos, como diria Gramsci, numa crise moral e política. Parece que não sobra no poder nenhum partido, seja do governo, dos aliados ou da oposição de direita, todos atolados na corrupção. E como corrupção não é uma questão de intensidade, mas de prática, não podemos cair no jogo de querer saber ou salvar quem roubou menos. É o momento do acerto de contas com nossa história.
Quando Gramsci diz que vivemos uma crise moral e política, a saída, segundo ele, é uma disputa de hegemonia que passa pela elaboração de um projeto econômico a ser disputado. No nosso país, além de uma cultura política autoritária, se diz que, se a economia fosse bem, a corrupção não afetaria o governo e seus aliados ou eles seriam blindados. É na combinação de crise política com crise econômica que sabemos para quem se governa um país. E política de austeridade ou de ajuste fiscal é uma forma de governar para o capital, e não para os trabalhadores e a classe média.
É no momento de crise que se revela a natureza de um governo. Nos momentos de bonança da expansão de excedentes no capitalista, até os militares fizeram “um milagre”. A prova de um governo é na hora que não é possível a conciliação de classe e de interesses, é nela que, com mais clareza, descobrimos a natureza do governo.
Agora, sim, podemos ter clareza da verdadeira natureza dos governos petistas. A situação do Brasil, após 16 anos de administração petista, será a verdadeira herança deixada. O avanço do conservadorismo e a ausência de reformas estruturais no País, em parte, é revelador de um partido que administrou unicamente pensando na sua perpetuação no poder.
Todavia, o Brasil precisa ser visto dentro de uma conjuntura mais ampla, onde o movimento do capital nos leva para barbárie e as opções de esquerda envelheceram. Estamos vivendo o fim de um processo civilizador, uma transição para algo que não se mostra como horizonte claro, na fronteira de uma anomia e um movimento do capital que alimenta destruição do meio ambiente e promove a guerra na sua busca desenfreada para acumular riqueza nas mãos de menos de um por cento da população do planeta.
Nesse cenário, a única morte necessária é a do capitalismo; uma relação coisificada que transforma gente em coisa. Devemos barrar o ódio aos diferentes e desejar a morte do outro. Tal comportamento é fruto da coisificação e da alienação imposta pelo capital. O momento é de busca de alternativas aos desafios conjunturais, estruturais e civilizatórios.
* Uribam Xavier
uribam@ufc.br
Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFC.