Eis o Editorial do O POVO desta quarta-feira:
A Nação ficou horrorizada com as cenas do atentado que vitimou o cinegrafista Santiago Andrade e terminou por matá-lo quando fazia cobertura de um protesto de rua na quinta-feira passada, dia 6.
O crime expõe de maneira clara a gravidade de um problema cada vez mais crescente nos últimos meses: a invasão dos espaços democráticos de manifestação por grupos de arruaceiros extremamente violentos, que não têm qualquer consideração para com a pessoa humana, nem limites para sua ação destruidora, sem qualquer compromisso para com o Estado democrático de Direito.
Isolar esses perturbadores, identificá-los e puni-los é o único recurso que tem a democracia para se proteger, pois todo o seu edifício se sustenta no respeito à lei e aos direitos individuais e coletivos, com vistas a uma convivência civilizada e pactuada entre diferentes interesses presentes em uma sociedade. Quem não tem compromisso com essas regras legitimamente pactuadas deve sofrer a reação do organismo social ameaçado pela invasão de um corpo estranho.
Além dos manifestantes comuns, têm sido alvo particular dessa investida a categoria dos profissionais da comunicação social, encarregados de fazer a cobertura jornalística dos eventos e dar ciência aos leitores, telespectadores, radiouvintes e internautas do desenrolar dos fatos e das suas implicações para que todos possam formar juízo a respeito deles, depois de informados, reforçando um dos instrumentos básicos da democracia: a liberdade de expressão.
A Associação de Jornalistas Investigativos (AJI) registra pelo menos 117 incidentes sofridos por repórteres, fotógrafos e cinegrafistas desde que as manifestações pacíficas passaram a ser perturbadas pela ação virulenta de grupos que se recusam a identificar-se. O primeiro resultado de sua ação é justamente a de provocar a retração da participação dos cidadãos nos atos públicos, inibindo sua livre expressão.
Neste caso particular, além da necessidade de identificação e punição dos autores da morte do cinegrafista Santiago Andrade, é preciso não dar lugar a oportunistas que queiram cercear o direito de manifestação, nem permitir que a busca de justiça se transforme em uma caça às bruxas, a serviço de interesses obscuros.
(O POVO / Editorial)