Em artigo no O POVO deste domingo (18), o economista Cláudio Ferreira Lima analisa a complexidade de uma cidade como Fortaleza. Confira:
Concluído o pleito municipal, procede-se à transição de governo, hoje, de forma mais civilizada, amparada por lei, reunindo a equipe de quem entra com a de quem sai.
Enquanto no plano federal o calendário já marca 2014, os prefeitos eleitos estão imersos no aqui e agora. É preciso inteirar-se sobre servidores, contratos, obras, finanças, saúde, segurança, educação, habitação, trânsito, transportes, limpeza pública etc. Fora o quebra-cabeça para formar o secretariado e a maioria na Câmara, esta última crucial, pois as decisões mais relevantes do município passam, obrigatoriamente, por lá.
Tomemos a situação de Fortaleza. Há emergências, como no caso da saúde e da segurança, e urgências, como no das obras de mobilidade urbana da Copa do Mundo. E há promessas de campanha e rearranjos político-administrativos para cumpri-las. E os recursos? Com o FPM em queda, o orçamento é como se fosse um cobertor curto que, à medida que o frio aumenta, só faz encolher.
A gestão de uma cidade do porte de Fortaleza é de grande complexidade, pois junto com o tamanho demográfico (a 5ª capital do País) existe brutal concentração de renda e riqueza (a 4ª em pobreza no País). O espelho disso é a distância de padrões de vida entre a periferia e a Aldeota ou Meireles. Daí o enorme desafio que é fazê-la crescer, gerando emprego, renda e qualidade de vida.
Segundo o IBGE (Regiões de influência das cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2008), Fortaleza é a terceira área de influência do País, quer dizer, é um dos principais destinos da produção agropecuária e dos transportes coletivos regulares de municípios deste e de outros Estados, cujas populações leem seus jornais e a procuram a fim de adquirir produtos e serviços, buscar tratamento de saúde, cursar ensino superior e utilizar seu aeroporto. E isso sem falar no turismo, que atrai gente de todo País e do exterior; a propósito, em 2014, Fortaleza será uma das sedes da Copa do Mundo. Pode a cidade, portanto, ganhar muito com tudo isso, desde que não se perca de vista a teia de relações em que ela se acha inserida.
É claro que se, de um lado, a cidade não pode ser considerada mera mercadoria, do outro, não há melhoria de condições de vida sem avanço econômico, que, por sua vez, depende da articulação de interesse público e privado, voltada para o interesse de todos. De igual modo, como a cidade é o locus privilegiado da economia, é hora de se dar aos centros de gestão – como as capitais – o tratamento fiscal condizente com o papel de locomotiva que exercem no processo de desenvolvimento nacional.
Roberto Cláudio terá um trabalho de Hércules pela frente. Segundo Marcos Aurélio Nogueira, o gestor público “precisa ser um profissional da articulação, competente para negociar com atores mais desagregados e fragmentados, mais carentes e solicitantes, mais excluídos e mais cientes de seus direitos” (Ver As possibilidades da Política – Ideias para a reforma democrática do Estado. São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 190). Agora, é “fé no homem, fé no que virá”.
*Cláudio Ferreira Lima,
Economista e técnico do BNB.