Com o título “Os professores e a pedagogia do exemplo”, o jornalista Luiz Henrique Campos critica a forma de luta dos docentes de Fortaleza, que estão em greve por melhores condições de trabalho e salário. Lamenta a invasão da Câmara Municipal e indaga o que a categoria tem ganho com greves, já que de concreto o que se vê é prejuízo para os alunos. Confira:
O degradante espetáculo proporcionado pelos professores municipais em greve, quando invadiram o plenário da Câmara Municipal na última quarta-feira e expulsaram os vereadores, mostra o nível de radicalização a que está submetido o movimento paredista dos docentes em Fortaleza.
Como se não bastasse o aspecto da ilegalidade caracterizada pelo fato, os organizadores do protesto ainda se acharam no direito de simular uma sessão na qual aprovaram todas as propostas que consideram favoráveis ao professorado.
Aqui não se discute a justeza das reivindicações dos professores, muito menos o direito de greve garantido na legislação. O que não se pode admitir é a inabilidade para encontrar outras formas de protesto, que não sejam as tradicionais e de pouca eficácia. Ora, nos últimos anos, os professores municipais já pararam por quase 200 dias, sendo que praticamente em todos os períodos letivos houve interrupções em virtude de greves.
Mesmo com essa quantidade de dias parados, o que conquistaram os professores efetivamente? O que fica claro é que esse tipo de manifestação não mais sensibiliza o poder público. Prova disso é que a secretária de Educação nem trata mais com os grevistas. Os únicos prejudicados, portanto, são os alunos. Muitos deles morando em áreas de risco da cidade e vulneráveis às mazelas que todos conhecem.
Para além disso, o espetáculo na Câmara Municipal ainda funciona como péssimo exemplo dado por quem deveria servir de estímulo para os alunos. Que tipo de exemplo os grevistas acham que passaram aos estudantes com o fato?
Fico imaginando como agiriam os professores se os alunos passassem a adaptar essas situações para conseguir seus objetivos. Como seria, então, se os estudantes se rebelassem e resolvessem dar aulas uns aos outros, e eles mesmos definissem suas notas? Tudo isso, claro, é surreal. Como foi na invasão da Câmara. O que não é surreal são os números da educação em Fortaleza mostrados nessa semana.
Luiz Henrique Campos,
lhcampos@opovo.com.br
Editor adjunto do Núcleo de Conjuntura do O POVO