
O ex-ministro e a atriz
Eis um artigo assinado pelo jornalista Clóvis Rossi,na Folha de São Paulo, que merece reflexões. No conteúdo, Rossi aborda o bate-boca do deputado federal Ciro Gomes (PSB) com a atriz Letícai Sabatella por ocasião de audiência pública, nesta semana, na Comissão de Direitos Humanos do Senado, onde o tema foi o velho e polêmico projeto de transposição das águas do rio S]ão Francisco. Confira:
Língua comprida
“Desconfio que qualquer um dos BBBs, os atuais ou os anteriores, produziria uma filosofada bem mais profunda do que o rés-do-chão despejado pelo deputado Ciro Gomes em cima da atriz Letícia Sabatella anteontem, em pleno Senado Federal, a saber:
“Eu, ao meu jeito, escolhi a opção de meter a mão na massa, às vezes suja de cocô, às vezes, mas minha cabeça, não, meu compromisso, não”, disse o deputado. O estilo não é exatamente o de um estadista, com perdão de usar palavra que não cabe neste contexto. Mas cada um tem o seu -e paga um preço por ele. Ciro já pagou, na campanha eleitoral de 2002, ao enforcar-se na própria língua comprida, contando pequenas mentiras com sua inata presunção, justamente quando começava a subir nas pesquisas. Até aí, problema dele. Mas na frase do deputado à atriz há um problema muito mais sério do que o estilo. Vejamos:
1 – Ciro Gomes foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro da Fazenda (governo Itamar Franco) e ministro da Integração Nacional (governo Luiz Inácio Lula da Silva), para citar apenas os cargos públicos mais relevantes e no Executivo. 2 – Nessas funções, obrigatoriamente, Ciro meteu a mão em muitíssimas massas. De acordo com sua própria contabilidade, “às vezes” colidiu com matéria fecal. 3 – Como em todas essas funções, foi pago com dinheiro público, tem a obrigação agora de prestar contas e explicar a quem o paga há muitíssimos anos quantas vezes encontrou “cocô” no meio da massa e o que fez ao descobri-lo (denunciou o defecador? omitiu-se?).
Não dá para falar esse tipo de coisa assim alegremente sem prestar a devida conta. Ainda mais quando, como é o caso de Ciro, faz parte de uma coligação campeã de “meter a mão na massa”, para ficar na parte não-escatológica da história.”